Martha Medeiros |
Há homens que têm patroa.
- Ela sempre está em casa quando ele chega do trabalho.
- O jantar é rapidamente servido à mesa.
- Ela recebe um apertão na bochecha.
- A patroa pode ser jovem e bonita, mas tem uma atitude subserviente, o que lhe confere certo ar robusto, como se fosse uma senhora de muitos anos atrás.
Há
homens que têm mulher.
- Uma mulher que está em casa na hora que pode, às vezes chega antes dele, às vezes depois.
- Sua casa não é sua jaula nem seu fogão é industrial.
- A mulher beija seu marido na boca quando o encontra no fim do dia e recebe dele o melhor dos abraços.
- A mulher pode ser robusta e até meio feia, mas sua independência lhe confere um ar de garota, regente de si mesma.
Há
homens que têm patroa, e mesmo que ela tenha tido apenas um filho, ou um casal,
parece que gerou uma ninhada, tanto as crianças a solicitam e ela lhes é
devota.
A
patroa é uma santa, muito boa esposa e muito boa mãe, tão boa que é assim que o
marido a chama quando não a chama de patroa: mãezinha.
Há
homens que têm mulher.
- Minha mulher, Suzana.
- Minha mulher, Cristina.
- Minha mulher, Claudia.
Mulheres
que têm nome, que só são chamadas de mãe pelos filhos, que não arrastam os pés
pela casa nem confiscam o salário do marido, porque elas têm o dela.
Não mandam nos caras, não obedecem aos caras: convivem com eles.
Há homens que têm patroa.
- Vou ligar pra patroa.
- Vou perguntar pra patroa.
- Vou buscar a patroa.
É
carinho, dizem.
Às
vezes, é deboche. Quase Sempre muito cafona.
Há
homens que têm mulher.
- Vou ligar para minha mulher.
- Vou perguntar para minha mulher.
- Vou buscar minha mulher.
Não há subordinação consentida ou disfarçada.
Não há patrões nem empregados.
Há
algo sexy no ar.
Há homens que têm patroa.
Há
homens que têm mulher.
E
há mulheres que escolhem o que querem ser.
Eliane de Pádua |
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