terça-feira, 27 de março de 2012

Esquecer para aprender






Fernando Pessoa, o brilhante poeta português, escreveu certa feita:

Procuro despir-me do que aprendi. 
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos, desencaixotar minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me, e ser eu.

O poeta, na ânsia de entender os porquês da vida, percebia que muito do que nos falam, ensinam, mostram, funciona, aos poucos, como camadas de tintas, a nos encobrir, a nos moldar.

Quantas vezes ouvimos nos dizerem: emprego bom é emprego que paga bem, tentando nos convencer que o valor do salário deva ser a preocupação número um na nossa vida profissional.

Outras tantas pessoas insistem em afirmar que importante é ter, possuir, gozar a vida naquilo que brilha aos olhos.

Há ainda, os que vivem pautados no egoísmo e autocentrismo, cuidando para que tudo, a princípio, seja deles para, em segundo momento, ser para eles, e em um terceiro momento, para os seus, jamais pensando no próximo ou na sociedade.

Frente a tantas camadas de tintas que insistem em nos pintar, há que se perguntar: Por quais valores devo me pautar? Como viver? Qual a melhor bússola para me guiar?



Inevitável, para responder a essas perguntas, lembrarmo-nos de quem somos, de onde viemos e para onde vamos.

É inevitável esquecer que somos apenas um corpo material, que vivemos apenas essa existência, e que todas as nossas experiências estão restritas entre o berço e o túmulo de uma única vida. Há que se aprender que somos Espíritos eternos.

E para aprender de um lado, há que se esquecer do outro. 

Como nos ensina o educador Rubem Alves, toda aprendizagem produz esquecimento.



Assim, esqueça que lhe ensinaram que você está aqui a passeio. Esqueça que lhe fazem crer que esta é sua única experiência. Esqueça que insistem em lhe convencer que as coisas acontecem por mero acaso, sem uma ordem Divina.


REFLEXÃO

É necessário esquecer essas ilusões que vivemos, para aprender que somos Espíritos imortais, rumando à perfeição, construindo passo a passo nossa estrada redentora de auto-iluminação.

É necessário esquecer as ilusões que os sentidos e a memória nos provocam, achando que nada houve antes do nosso nascimento.

É necessário aprender que trazemos na nossa bagagem emocional e intelectual todas nossas conquistas, felizes e infelizes, frutos de nossas próprias opções, sendo, cada um de nós, herdeiro de si mesmo.

Nesse exercício de esquecimento dessas ilusões, iremos aos poucos raspando a tinta com que nos pintaram os sentidos, iremos desencaixotando nossas emoções verdadeiras, desembrulhando-nos para, efetivamente, vivermos como Espíritos imortais.

Viveremos como quem não pertence a Terra, muito embora aqui estagie por um período, entendendo que aqui estamos para aprender as coisas de Deus.


Eliane de Pádua


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