sexta-feira, 9 de novembro de 2012

O Construtor de gente




O economista participava de um debate, em que se discutia o desemprego e, após um engenheiro falar sobre a contribuição da construção civil na demanda por mão de obra, o mediador, entre irônico e sério, fez a seguinte afirmação-pergunta:

"Os professores não constroem pontes; logo, o que eles podem fazer para ajudar a diminuir o desemprego?" 


Sem tempo para pensar, o hábil polemista respondeu, também entre irônico e sério:


"Realmente um professor não constrói pontes, não levanta edifícios, não pilota aviões, não cura doentes... Essas atividades tão visíveis e responsáveis por tantos empregos”. 


E continuou:


O professor se contenta com algo mais simples: 
Ele prefere construir o engenheiro que levanta as paredes, instruir o comandante que faz o avião voar, formar o médico que cura, e ensinar os jornalistas a fazerem perguntas embaraçosas. 


O professor não constrói coisas: 
Ele “constrói” as pessoas que fazem as coisas, ou pelo menos ajuda as pessoas a construírem a si próprias.


Dizia Immanuel Kant que: o homem é a única criatura que precisa ser educada e a educação é a arte de formar os homens; isto é, desenvolver neles simultaneamente as faculdades físicas, intelectuais e morais. 


Os animais são resultado de uma fatalidade biológica; mas o homem, conquanto tenha sua porção animal, por sua biologia, é um ser dotado de propósito consciente. 

Nesse sentido, o animal-homem é uma entidade ética, capaz de construir, mudar e aperfeiçoar seu pensamento, sua conduta e suas atitudes. 

Ortega y Gasset dizia que: 

A vida nos é dada, mas não nos é dada pronta.


O homem carrega, para além da sua fatalidade biológica, a responsabilidade de desenvolver o seu projeto de vida de acordo com sua livre escolha entre as várias opções que lhe são oferecidas para buscar a sua felicidade. 

Aí está o papel do professor, que não constrói pontes, mas que ajuda o homem a desenvolver a si mesmo, a moldar sua ação e erigir seu edifício intelecto-moral. 


O professor é um transmissor do seu saber, que deve deixar ao aprendiz o papel de escolher e construir a sua própria obra. 

É na modéstia do seu propósito que o professor tem a nobreza da sua missão. 

E vale a pena lembrar a poesia do biólogo chileno Humberto Maturana, feita para um professor do seu filho, que inibia o desabrochar da criatividade da criança querendo impor-lhe um modelo rígido. 

A poesia, denominada



Prece do Estudante


Não me imponha o que você sabe;  quero explorar o desconhecido,  e ser a origem das minhas próprias descobertas.  
Que o seu saber seja minha liberdade, não minha escravidão.  
O mundo de sua verdade pode ser minha limitação;  sua sabedoria, minha negação.  
Não me instrua; vamos caminhar juntos.  
Deixe que minha riqueza comece onde a sua termina. 
Mostre-se a mim, de maneira que eu possa subir em cima dos seus ombros, e ver mais longe. 
Revele-se para que eu possa ser  alguma coisa diferente. 
Você crê que todo ser humano pode amar e criar; 
Compreendo, por isso, seu medo,  quando lhe peço que me deixe viver de acordo com minha sabedoria. 
Você nunca saberá quem eu sou se escutar apenas a si mesmo. 
Não me instrua; deixe-me ser; 
seu fracasso é que eu seja idêntico a você. 


REFLEXÃO:

A educação é uma arte particular, que exige vocações muito particulares; exige qualidades morais que não são dadas a todos os homens, tais como sabedoria, firmeza, paciência, vontade e força para dominar as próprias paixões; 

Exige profundo conhecimento do coração e da psicologia do ser humano, além do conhecimento dos meios mais apropriados para desenvolver no aluno as faculdades físicas, intelectuais e morais necessárias ao seu crescimento. 


A educação é uma arte que precisa ser estudada, do que resulta que o professor é ele próprio, um eterno aprendiz.



Eliane de Pádua




Nenhum comentário:

Postar um comentário