Conta-se que foi manchete nas mídias,
no ano de 2005, o fato de médicos e hospitais de vários municípios terem se
recusado a fazer o abortamento em uma adolescente de 14 anos, apesar da autorização judicial que trazia
consigo,
Segundo as notícias, a jovem disse
que sua gravidez foi fruto de estupro e obteve do juiz a permissão para
realizar o aborto, isentando médicos e hospitais que se dispusessem a eliminar
a vida que pulsava em seu ventre.
Embora o juiz tenha autorizado o aborto,
não
lhe caberia o direito de obrigar ninguém a realizar o feito, pois nem
sempre a legalidade de um ato o torna
moral.
O que vale ressaltar na atitude
desses médicos é a consciência do dever. O dever de defender a vida, assumido
perante si próprio.
O dever é a obrigação
moral da criatura
para consigo mesma, primeiro, e, em seguida, para com os outros.
Ao concluírem o curso os médicos
fazem um juramento, o mesmo juramento feito por Hipócrates, um sábio grego que
viveu no século V antes de Cristo, e é considerado o Pai da Medicina.
O juramento diz o seguinte:
Eu, solenemente, juro
consagrar minha vida a serviço da Humanidade. Darei como reconhecimento a meus
mestres, meu respeito e minha gratidão. Praticarei a minha profissão com consciência
e dignidade. A saúde dos meus pacientes será a minha primeira preocupação. Respeitarei
os segredos a mim confiados. Manterei, a todo custo, no máximo possível, a
honra e a tradição da profissão médica. Meus colegas serão meus irmãos. Não
permitirei que concepções religiosas, nacionais, raciais, partidárias ou
sociais intervenham entre meu dever e meus pacientes. Manterei o mais alto
respeito pela vida humana, desde sua concepção. Mesmo sob ameaça, não usarei
meu conhecimento médico em princípios contrários às leis da natureza. Faço
estas promessas, solene e livremente, pela minha própria honra.
Ao fazer tal juramento, o médico
passa a ter um dever moral consigo mesmo. E, se o violar, estará ferindo a
própria consciência.
Ao se comprometer com esse ideal, o
médico também estabelece o dever para com os outros, que é o segundo passo do
dever ético-moral.
Lamentável é que muitos desses homens
e mulheres que juraram, solene e livremente, que manteriam o mais alto respeito
pela vida humana, desde sua concepção, usem seus conhecimentos médicos para
eliminar a vida que pulsa no santuário do ventre materno.
Por outro lado, é admirável a coragem
e a honra desses homens e mulheres que não se permitem sujar as mãos com sangue
inocente, mesmo sob qualquer pressão.
Isso porque sabem que, se agirem em
desacordo com o juramento feito por livre vontade, não terá como se olhar no
espelho da consciência e enxergar um cidadão honrado.
O dever é a lei da vida. Com ele
deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais elevados.
Na ordem dos sentimentos, o dever é
muito difícil de cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do
interesse e do coração. Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão
sujeitas à repressão suas derrotas.
O dever principia, para cada um de
vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do
vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação
a vós.
O dever é o mais belo laurel da
razão; descende desta como de sua mãe o filho.
O homem tem de amar o dever, não
porque preserve de males a vida, mal ao qual a humanidade não pode subtrair-se,
mas porque confere à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever cresce e irradia sob mais
elevada forma, em cada um dos estágios superiores da Humanidade.
Jamais cessa a
obrigação moral da criatura para com Deus.
Tem esta de refletir as virtudes do Eterno, que não aceita esboços
imperfeitos, porque quer que a beleza da
Sua obra resplandeça a seus próprios olhos.
Eliane de Pádua
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