Costuma-se ouvir pessoas reclamarem
da ingratidão com que são recompensados seus gestos de bondade.
É possível até se escutar promessa
veemente de que jamais tornarão a ajudar a quem quer que seja, pois não vale a
pena.
Para um simples repórter de um
jornal, uma ação bondosa lhe valeu a vida.
Ávido pelas notícias, contudo,
aventurou-se, até ser preso por seis homens com cartucheiras, granadas e
lança-bombas.
Resolveram levá-lo como prisioneiro
até sua base de operações.
Pelo caminho, passando pelas aldeias,
ele era apresentado como um troféu e, embora não entendesse o que falavam, uma
mistura de dialetos, podia perceber que a sua captura era dramatizada.
Era um espião. Estava armado.
Resistira. Por vezes, davam-lhe chutes e tapas.
Após dois dias de caminhada rude e
maus tratos, finalmente o grupo chegou à base e ele foi apresentado ao
comandante do campo.
Vestido a caráter, ouvia o relato com
atenção, alimentando-se bem, enquanto ao pobre aprisionado não foi permitido
nem se sentar.
Em dado momento, o jornalista pôde
ouvir que eles passaram a usar o dialeto Chindau.
Este ele conhecia de seu tempo de criança,
quando de suas andanças com sua mãe pelas aldeias.
Prestou atenção e, então, hesitante,
saudou o comandante com o que pode se lembrar do dialeto Chindau.
O comandante ficou admirado. Como ele
conhecia aquela língua?
- Cresci aqui - falou o prisioneiro.
Dizendo o nome de sua família, viu
repentinamente o semblante duro daquele chefe se transformar.
Sua mãe era médica? Perguntou ele.
Então foi ela que me vacinou.
E, erguendo a manga da camisa,
mostrou a cicatriz da vacina.
E você, continuou, você é o garoto
que nos dava um torrão de açúcar, com remédio.
Ficava insistindo para que
colocássemos a língua para fora e punha açúcar nas nossas bocas.
Graças a isso, eu cresci forte!
Tudo mudou em questão de minutos.
De refém passou a hóspede de honra.
Pôde sentar-se, alimentar-se,
refrescar-se com um pano úmido.
No dia seguinte, foi levado de volta
com todo cuidado e atenção.
Os raptores dos dias anteriores,
transformados em zelosos guarda-costas agora, até tiraram foto com ele.
O jornalista guardou a foto, certo de
que uma boa ação permanece sempre viva, apesar das distâncias e do tempo.
REFLEXÃO
A bondade é luz que se
espalha na noite das desesperanças.
Acendamos as luzes da
bondade onde se estenda a escuridão e convertamos os nossos braços em traves de
misericórdia, silenciando a eventual ingratidão que venhamos a receber.
Os ingratos necessitam
redobrados atos de bondade para serem sensibilizados, pois a ingratidão é
enfermidade da alma.
Eliane de Pádua
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