Sempre resta alguma coisa para amar
Eu convido-vos a refletir sobre os
valores que guardam em nossas almas, com esse belíssimo conto.
Na peça, uma família recebe uma
pequena quantia proveniente do seguro de vida do pai.
A dona da casa vê no dinheiro a
oportunidade de deixar o lugar onde vivia, e mudar-se para uma casa no campo,
enfeitada com jardineiras.
A filha, uma moça muito inteligente,
vê no dinheiro a oportunidade de realizar seu sonho de estudar medicina.
O filho mais velho, contudo,
apresenta um argumento difícil de ser ignorado.
Quer o dinheiro para que ele e
um amigo iniciem um negócio, juntos.
Diz à família que, com o dinheiro,
ele poderá trabalhar por conta própria e facilitar a vida de todos. Promete
que, se puder lançar mão do dinheiro, proporcionará à família todos os
confortos que a vida lhes negou.
Mesmo contra a vontade, a mãe cede
aos apelos do filho.
Ela tem de admitir que as
oportunidades nunca foram tão boas para ele, e que ele merece a vida boa que
esse dinheiro pode lhe oferecer.
No entanto o tal "amigo"
foge da cidade com o dinheiro.
Desolado, o filho é forçado a voltar
para casa e dizer à família que suas esperanças para o futuro lhe foram
roubadas e que seus sonhos de uma vida melhor foram desfeitos.
A irmã atira-lhe no rosto toda sorte
de insultos. Qualifica-o com as palavras mais grosseiras que se possa imaginar.
Seu desprezo em relação ao irmão não tem limites.
Quando ela para um pouco para
respirar, a mãe a interrompe e diz:
"pensei que tivesse ensinado você a amar seu irmão."
A filha então responde: "amar meu irmão? Não restou nada nele
para eu amar."
E a mãe diz: "sempre sobra
alguma coisa para amar. E, se você não aprendeu isso, não aprendeu nada. Você
chorou por ele hoje?"
Não estou perguntando se você chorou
por causa de si mesma e de nossa família, por termos perdido todo aquele
dinheiro. Estou perguntando se chorou por ele: por aquilo que ele sofreu e
pelas consequências que terá de enfrentar.
Filha, quando você acha que é tempo
de amar alguém com mais intensidade?
No momento em que faz coisas boas e
facilita a vida de todos?
Bem, então você ainda não aprendeu
nada, porque esse não é o verdadeiro momento para amar. Devemos amar quando a
pessoa está se sentindo humilhada e não consegue acreditar em si mesma, porque
o mundo a castigou demais.
Se julgar alguém, faça-o da forma
certa, filha, da forma certa. Tenha a certeza de que você levou em conta os
revezes que ele sofreu antes de chegar ao ponto em que está agora.
Essa é a graça misericordiosa! É o
amor ofertado quando não se fez nada para merecê-lo. É o perdão concedido
quando não se fez nada para conquista-lo.
É a dádiva que flui como as águas
refrescantes de um riacho para extinguir as labaredas provocadas por palavras
de condenação carregadas de ira.
O amor que o pai nos oferece é muito
mais abundante e generoso.
A misericórdia de Deus é muito mais grandiosa e
sábia.
Pense nisso
Pense com o coração no que esta lição
nos traz, e reflita sobre o seu amar, sobre as condições que você impõe ao
outro para que o ame, e descubra a oportunidade de amar de verdade.
Por mais que as pessoas, com suas
imperfeições, tragam-nos mágoa, desapontamento ou desilusão, lembremos de que
sempre resta alguma coisa para amar.
Eliane de Pádua
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