
Logo que aprendeu a ler, o menino começou a fazer descobertas.
Um dia estava folhando um livro e deparou com a palavra
"réptil".
Procurou no dicionário e surpreendeu-se com o
significado:
"animal que se arrasta".
Pensava, até então, que réptil tinha a ver com rapidez e
era justamente o contrário.
Seu pai riu do seu espanto e disse que as tartarugas também
eram répteis.
Falou, ainda, com ares de mistério, que havia uma lenda
chinesa narrando que Deus havia escrito o segredo da vida no casco de
uma tartaruga.
De olhos arregalados o menino imaginava como poderia ter
Deus usado o casco da tartaruga como se fosse uma folha de papel.
O pai, encantado com o interesse do filho, salientou
que aprender a ler nos livros era apenas o começo da longa jornada
do conhecimento.
Disse que, com o passar do tempo, o filho conseguiria ler
no rosto de uma pessoa a história de sua vida.
Que bastaria observar os olhos de um amigo para ver se
neles brilhava, ou não, felicidade.
Que, um dia, ao tocar nas mãos de um homem do campo, seria
capaz de conhecer seus sofrimentos.
O menino não se ateve às novas argumentações do pai.
Ele era curioso.
Queria mesmo era saber qual seria o segredo da vida.
Por isso, começou a interessar-se pela vida das tartarugas.
Pesquisou, leu e aprendeu muito.
Passou a reconhecer as espécies e suas
principais características.
Sabia onde era possível encontrá-las e que ameaças a maior
parte delas sofria.
Quanto mais estudava, mais o menino se convencia de
que realmente poderia descobrir a escrita de Deus naquelas
criaturas.
Elas tinham carapaças misteriosas, com desenhos
estranhíssimos, círculos coloridos, arestas longitudinais.
Algumas até pareciam mais uma pintura.
O menino foi crescendo e tornou-se um especialista
em tartarugas.
Sabia distinguir uma adolescente de uma adulta e conhecia
muito a respeito da desova das espécies marinhas no litoral.
Com o passar do tempo, porém, ele descobriu uma coisa
muito importante.
Deu-se conta de que, assim como ele procurava o segredo da
vida no casco das tartarugas, havia outras pessoas que buscavam a mesma
coisa em lugares diferentes.
No pulsar das estrelas.
No canto dos pássaros.
No silêncio dos olhares.
No cheiro dos ventos.
Tudo que o cercava, afinal, podia ser lido.
Lembrou-se das palavras de seu pai.
Somente agora as compreendia.
Somente o tempo, como um professor que conduz o aluno pela
mão, foi capaz de fazê-lo entender essa lição.
Longos anos separavam o ensinamento da compreensão. Como
todas as pessoas, em geral, ele fazia suas descobertas de forma lenta. Muito
lentamente, como as tartarugas.
Talvez estivesse aí o segredo.
Pense nisso!
Se você busca o segredo da vida, não se iluda com receitas
e roteiros milagrosos.
Compreender a divindade e seus atributos, por vezes,
parece estar além da capacidade humana.
Porém, não esqueça que Deus está em toda a parte, animando
toda a sua maravilhosa obra.
Está, inclusive, em sua intimidade.
Eliane de Pádua
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