Maria é uma moça comum, não fosse o
fato de se dar muito bem com a sinceridade – tanto a dela, quanto a dos outros.
Ela tem como amiga inseparável a
Verdade e não tem problemas em usá-la com quem quer que seja.
Talvez, por isso,
ninguém mais se aproxime dela.
Maria é uma em um milhão (dado completamente sem
embasamento teórico, obviamente).
Ela vai pela contramão, bate de frente
com a mentira e não deixa a falsidade tomar forma.
Maria não sabe, mas nunca será
compreendida.
É difícil para mim,assim como para Maria,
entender a dificuldade que as pessoas têm em lidar com a sinceridade.
Essa, que deveria ser uma
característica vinda de fábrica, se tornou um item raro de ser encontrado.
As pessoas, por medo de se mostrar ou
de magoar, acabam optando pela criação de um personagem mais comedido, que
pensa antes de falar e esconde fatos para agradar.
Mas se tornam da forma mais
pejorativa que há verdadeiros mentirosos.
Os covardes justificam a falta de
sinceridade pela falta também de coragem.
Os sentimentais dizem não querer magoar
o próximo.
E há ainda os que dizem que tem hora certa para falar a verdade, mas
essa hora nunca chega no relógio deles.
O fato é que, mentindo para os
outros, mente-se para si próprio.
Ninguém consegue construir relações
sólidas em cima de mentiras.
Pois a verdade age com rapidez e, ainda que rude,
acaba por fortalecer a relação.
A mentira não, essa engana, magoa,
destrói e faz tudo isso em longos períodos, ficando maior a cada dia que passa.
Para ser sincera com alguém há que se
ter muita coragem.
Olhar no olho e falar na lata um segredo de anos ou uma
situação recente, sem se preocupar em agradar, é um ato de extrema força.
A
mentira é que é para os fracos.
Há que se abrir mão do romantismo
algumas vezes e contar para o companheiro determinado assunto que pode gerar
conflitos.
Devem-se apontar erros, reconhecer
deslizes e não passar a mão na cabeça todas às vezes.
Só quem se importa consegue falar a
verdade, mesmo correndo o risco de magoar.
É assim também que se constrói uma
amizade duradoura.
Daquelas em que o indivíduo consegue levar broncas na
brincadeira e ainda assim entender a mensagem.
Colegas que se transformam em
amigos precisaram, antes, ouvir muitas verdades do outro.
É assim que se confia
e cria laços.
Mas hoje parece que isso não importa,
as relações estão cada vez mais superficiais e a mentira mais escancarada.
As
pessoas sabem que estão sendo enganadas e preferem assim.
Como se só quem
suportasse a mentira é que fosse digno de um relacionamento.
Os que agem diferente, como Maria – a
sincera, tendem a ser odiados, visto como rudes e sem sentimento.
Mas quem fala
a verdade ama, quem fala a verdade confia e é digno de confiança.
A diferença é que quem fala a
verdade, mesmo que sozinho, dorme com a consciência tranquila, estando seguro
de suas ações e seus diálogos.
Quem fala a verdade não se preocupa em agradar,
pois sabe que só quem preza pela sinceridade é que vai entendê-la – e são essas
as pessoas que valem à pena.
Quem fala a verdade não precisa
guardar elogios na manga para soltar durante o dia.
Quem fala a verdade elogia
quem e quando merece, caso contrário, prefere ficar em silêncio a ter que
fingir simpatia.
Quem fala a verdade nem sempre é aplaudida, mas quando as
palmas vêm, são sinceras.
E no mesmo sentido, só prestigia quem acha que
realmente merece.
Quem fala a verdade fica sozinha de
início, é bem verdade, mas conta sempre com aquele que, no final, cansa da
mentira que uma hora vem à tona.
Afinal, ela tem pernas curtas.
E a verdade, mesmo que malquista,
acaba sempre aparecendo para todos.
E quando isso acontece, os covardes usam de
várias desculpas para se consertar.
Muitos colocam a culpa na bebida alcoólica,
outros dizem ser apenas uma piada e outros citam o estresse no trabalho como o
causador das verdades gritadas e logo recuadas.
Então, pra você, covarde, que não tem
coragem de segurar a bronca de uma verdade polêmica e está sem criatividade
para desculpas, eu sugiro essa daqui:
![]() |
“Desculpa cara! Não fui eu, e sim meu eu lírico.” |
Eliane de Pádua
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