Devemos
cuidar mais da alma, a viajar pro interior, a descobrir o que nos
completa.
Pois se
os olhos são as janelas da alma, de que adianta levantar pálpebras se
descortinam um olhar de súplica?
Erótica é a alma que se diverte, que se perdoa, que ri de si mesma
e faz as pazes com sua história. Que usa a espontaneidade pra ser sensual, que
se despe de preconceitos, intolerâncias, desafetos.
Erótica é a alma que aceita a passagem do tempo com leveza e
conserva o bom humor apesar dos vincos em torno dos olhos e o código de barras
acima dos lábios; erótica é a alma que não esconde seus defeitos, que não se
culpa pela passagem do tempo.
Erótica é a alma que aceita suas dores, atravessa seu deserto e ama
sem pudores.
Porque não adianta sex shop sem sex appeal; bisturi por fora sem
plástica por dentro; lifting, botox, laser e preenchimento facial sem cuidado
com aquilo que pensa, processa e fala; retoque de raiz sem reforma de
pensamento; strip-tease sem ousadia ou espontaneidade.
Querendo ou não, iremos todos envelhecer - faz parte da vida.
As pernas irão pesar e a coluna doer, o colesterol aumentar. A
imagem no espelho irá se alterar gradativamente e perderemos estatura, lábios e
cabelos.
A boa notícia é que a alma pode permanecer com o humor dos dez, o
viço dos vinte e o erotismo dos trinta anos se você permitir.
O segredo não é reformar por fora. É, acima de tudo, renovar a
mobília interior e tirar o pó, dar brilho, trocar o estofado, abrir as janelas,
arejar o ambiente.
Porque o tempo, invariavelmente, irá corroer o exterior. E quando
ocorrer, o alicerce precisa estar forte pra suportar.
Não tem problema cuidar do corpo. É primordial ter saúde e faz bem
dar um agrado à auto-estima. O perigo é ficar refém do espelho, obcecado pelo
bisturi, viciado em reduzir, esticar, acrescentar, modelar. Até plástica íntima
andam fazendo!
Bisturi
algum vai dar conta do buraco de uma alma negligenciada anos a fio.
Vivemos a era das emergências.
De repente tudo tem conserto, tudo se resolve num piscar de olhos,
há varinha de condão e tarja preto para sanar dores do corpo, alma e coração.
Desaprendemos a valorizar aquilo que é importante, o que é eterno,
o que tem vocação de eternidade.
E de tanto lustrar a carapaça, vivemos a
"Síndrome da Maça do Amor": Brilhantes por fora e podres por
dentro.
O tempo tornou-se escasso, acreditamos que "perdemos tempo"
quando lemos um livro inteiro, quando passamos horas com nossos filhos, quando
oramos ou viajamos com a família. E nos iludimos achando que poderemos "segurar
o tempo" cuidando da flacidez, esticando a pele, preenchendo espaços.
Erotize a alma.
E não se esqueça:
Em vez de se concentrar no lustre da maçã, trate de aproveitar o
sabor que ela ainda é capaz de proporcionar...
Eliane de Pádua
padua.eliane@gmail.com
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