segunda-feira, 3 de setembro de 2012

O ruído da maçaneta




Não há mais bela música que o ruído da maçaneta da porta, quando meu filho volta para casa.

Volta da rua, da vasta noite, da madrugada de estranhas vozes, e o ruído da maçaneta, e o gemer do trinco, o bater da porta que, novamente, se fecha o tilintar inconfundível do molho de chaves, são um doce acalanto, uma suave cantiga de ninar.

Só assim fecho os olhos, posso, afinal, dormir e descansar.

Oh! A longa espera, a negra ausência, as histórias de acidentes e assaltos, que só a noite, como ninguém, sabe contar!

Oh! Os presságios e os pesadelos, o eco dos passos nas calçadas, a voz dos bêbados na rua, e o longo apito do guarda, medindo a madrugada, e os cães uivando na distância, e o grito lancinante da ambulância!

E o coração, descompassado, a pressentir e a martelar, na arritmia do relógio do meu quarto, esquadrinhando a noite e seus mistérios.

Nisso, na sala que se cala, estala a gargalhada jovem da maçaneta que canta a festiva cantiga do retorno.

E sua voz engole a noite imensa, com todos os ruídos secundários.

Oh! Os símbolos do trinco e os clarins da porta que se escancarava, e os guizos das muitas chaves que se abraçam e o festival dos passos que ganham a escada!

Nem as vozes da orquestra, e o tilintar de copos, e a mansa canção da chuva no telhado, podem, sequer, se comparar ao som da maçaneta que sorri, quando meu filho volta.

Que ele retorne sempre sã e salvo, marinheiro depois da tempestade, a sorrir e a cantar.


E que, na porta, a maçaneta cante a festiva canção do seu retorno, que soa, para mim, como suave cantiga de ninar.


Só assim, só assim, meu coração se aquieta, posso, afinal, dormir e descansar. 

Eliane de Pádua



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