sexta-feira, 4 de outubro de 2024

EXPECTATIVAS DOS OUTROS





Se você não for verdadeiro com a voz interior ou com a fonte divina do seu coração, você não será feliz. 

Quantas vezes dizemos ou fazemos alguma coisa que não é inteiramente verdadeira, apenas para sermos apreciados ou para nos sentirmos próximos de outra pessoa, e logo em seguida nos arrependemos? 

Muitos sacrificam seus sonhos individuais e seus desejos para atender às expectativas dos outros.

Quando somos crianças, existe um padrão estabelecido: os filhos devem esforçar-se para conquistar o amor dos pais, e os pais moldam os filhos para fazer deles o que esperam que sejam. 

Para quem foi criado em famílias muito exigentes ou muito fechadas, o esforço para agradar pode ser interminável. 

À medida que as crianças crescem, os desejos dos pais permanecem em seu subconsciente e tornam-se parte de sua programação. 

Na idade adulta, sua auto-estima pode depender da aceitação dos outros, da mesma maneira como procuravam agradar os pais para conseguir seu amor. 

O que acontece é que estes adultos nunca chegam realmente a viver para si mesmos.

Uma das situações mais trágicas e mais comuns que encontro em meu trabalho é aquela em que um espírito se diz arrependido por não ter vivido uma vida satisfatória. 

Felizmente, quando entram em um nível mais elevado, os espíritos que se encontram neste estado reagem rapidamente ao amor incondicional oferecido pelos seres espirituais presentes. 

Esses espíritos começam então a ganhar uma nova percepção de seus arrependimentos e aprendem a valorizar a si mesmos, aos objetivos que alcançaram e ao amor que deram às outras pessoas quando estavam na Terra. 

Como seria melhor se tivessem podido expressar suas verdadeiras naturezas na vida, antes que fosse tarde demais! 

Todos nós fomos colocados nesta Terra para descobrir nosso próprio caminho e nunca seremos felizes se nos preocuparmos em seguir o caminho que outra pessoa traçou para nós.

É uma pena que tantas pessoas vivam em função das expectativas alheias. 

Durante as sessões que participo, ouvi muitos casos de expectativas irreais ou frustradas. 

São histórias tristes, porque na maioria das vezes o potencial da pessoa nunca foi desenvolvido, deixando um enorme arrependimento pela vida vivida parcialmente.





REFLEXÃO

Para Schopenhauer, a vida é um pêndulo oscilando entre a dor e o tédio. A dor, nascida do desejo insaciável, e o tédio, filho da satisfação alcançada, criam uma dança cruel onde o alívio é apenas uma miragem. O desejo em si é dor; a conquista não passa de um alívio temporário que logo se dissolve no vazio. Na posse do que se queria, a ânsia se renova, e um novo desejo surge, perpetuando o ciclo. Assim, a existência se desenrola como uma eterna busca que nunca satisfaz, um tormento incessante que nos condena à infelicidade.

Contudo, Schopenhauer, em um toque de genialidade, propõe uma saída desse círculo vicioso: a superação da vontade individual. Inspirado pela filosofia oriental, especialmente o budismo, ele sugere que a chave para libertar-se da dor reside na negação dessa vontade cega e insaciável. O caminho proposto é a experiência estética, a contemplação do belo, que nos eleva além dos caprichos do desejo. Na arte e na natureza, encontramos uma janela para a intuição pura, um estado onde a vontade perde seu poder e somos momentaneamente libertados do sofrimento.

A experiência estética, segundo Schopenhauer, não é apenas um escape, mas uma revelação. O artista, ao criar, transcende sua própria vontade e oferece ao espectador uma visão do mundo livre das amarras do desejo. Na contemplação do belo, o espectador também é convidado a esse estado de suspensão, onde o fardo da existência se torna mais leve. O momento estético é uma pausa na roda do tempo, uma suspensão das relações mundanas, onde apenas o essencial se revela. É nesse encontro com a essência que encontramos a paz e a alegria, ainda que fugazes.

Assim, na contemplação do belo, a vida ganha um sentido que transcende a dor e o tédio. A arte se torna um bálsamo, uma fonte de alívio que nos permite suportar a existência. O espectador, ao olhar através dos olhos do artista, percebe uma nova dimensão da realidade, onde a busca incessante do desejo é silenciada e a verdadeira paz pode ser vislumbrada. É nesse estado de intuição e contemplação que encontramos uma breve, mas profunda, trégua da roda incessante do sofrimento.



Eliane de Pádua



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