sexta-feira, 4 de outubro de 2024

CORAGEM




A vida pede mais que sobreviver; ela exige coragem. 

Coragem para reconhecer que cada um tem seu próprio relógio, com ponteiros que se movem de forma única. 

Não existe uma régua universal, uma métrica para todos. 

É um erro acreditar que a pressa define sucesso ou que a espera seja fracasso. 

Vivemos em tempos onde o imediato seduz, mas a ansiedade é uma ladra silenciosa, roubando a apreciação do presente e fazendo do futuro uma urgência. 

A sabedoria está em aceitar que há tempo para plantar, regar e, só então, colher. 

Amar o que somos e o que vivemos agora, com suas imperfeições, é um ato de coragem.

Às vezes, em momentos de grande felicidade, nos vemos chorando, não sorrindo. 

Isso nos lembra que a vida, assim como nós, não cabe em uma lógica simples. 

Quando sentimos demais, as fronteiras entre riso e pranto se dissolvem. 

Seria tolice racionalizar tudo. 

Como canta Eminem: 
"As coisas nem sempre podem fazer sentido pra você agora." 

E está tudo bem. 

Para que o novo surja, sentimentos antigos precisam ser deixados para trás. 

Abraçar o imprevisível requer coragem, mesmo que o medo de tropeçar nos faça hesitar. 

O importante é não deixar o medo paralisar; o tropeço faz parte do caminho.

Na era das redes, somos bombardeados por recortes de vidas alheias, versões idealizadas que nos afastam de quem somos. 

Essas narrativas platônicas alimentam comparações injustas, nos fazendo sentir pequenos diante de existências fabricadas. 

Mas há valor em viver sem filtros, reconhecendo a verdade do que é vivido, sem precisar provar nada. 

Amar nosso destino, sem ilusões, é um ato revolucionário. 

Não é sobre o que mostramos, mas sobre o que realmente acolhemos de nós mesmos.

O amor nos recebe quando nascemos, e sem ele, não temos chance, mas o amor não garante a vida; ele apenas a inaugura. 

O verdadeiro desafio está em aprender a amar o caminho, com suas sombras e luzes, curvas e retas. 

Ser recebido com amor é vital, mas ser fiel à nossa própria história é o que nos sustenta. 

Como disse Anais Nin: 

“A vida se contrai e se expande proporcionalmente à coragem do indivíduo.”


REFLEXÃO

A vida exige da nossa parte uma coragem constante, assim como uma forte determinação. Não é fácil enfrentar os grandes obstáculos que ocasionalmente nos surgem, não é simples vencer o desalento de as coisas nem sempre corresponderem às nossas expectativas. É necessário manter o foco nos objetivos, estar otimista mesmo nas fases menos positivas que às vezes nos assolam. 

Nenhuma tempestade dura eternamente e, se formos íntegros, mais tarde ou mais cedo acabaremos por vencer.




Eliane de Pádua






EXPECTATIVAS DOS OUTROS





Se você não for verdadeiro com a voz interior ou com a fonte divina do seu coração, você não será feliz. 

Quantas vezes dizemos ou fazemos alguma coisa que não é inteiramente verdadeira, apenas para sermos apreciados ou para nos sentirmos próximos de outra pessoa, e logo em seguida nos arrependemos? 

Muitos sacrificam seus sonhos individuais e seus desejos para atender às expectativas dos outros.

Quando somos crianças, existe um padrão estabelecido: os filhos devem esforçar-se para conquistar o amor dos pais, e os pais moldam os filhos para fazer deles o que esperam que sejam. 

Para quem foi criado em famílias muito exigentes ou muito fechadas, o esforço para agradar pode ser interminável. 

À medida que as crianças crescem, os desejos dos pais permanecem em seu subconsciente e tornam-se parte de sua programação. 

Na idade adulta, sua auto-estima pode depender da aceitação dos outros, da mesma maneira como procuravam agradar os pais para conseguir seu amor. 

O que acontece é que estes adultos nunca chegam realmente a viver para si mesmos.

Uma das situações mais trágicas e mais comuns que encontro em meu trabalho é aquela em que um espírito se diz arrependido por não ter vivido uma vida satisfatória. 

Felizmente, quando entram em um nível mais elevado, os espíritos que se encontram neste estado reagem rapidamente ao amor incondicional oferecido pelos seres espirituais presentes. 

Esses espíritos começam então a ganhar uma nova percepção de seus arrependimentos e aprendem a valorizar a si mesmos, aos objetivos que alcançaram e ao amor que deram às outras pessoas quando estavam na Terra. 

Como seria melhor se tivessem podido expressar suas verdadeiras naturezas na vida, antes que fosse tarde demais! 

Todos nós fomos colocados nesta Terra para descobrir nosso próprio caminho e nunca seremos felizes se nos preocuparmos em seguir o caminho que outra pessoa traçou para nós.

É uma pena que tantas pessoas vivam em função das expectativas alheias. 

Durante as sessões que participo, ouvi muitos casos de expectativas irreais ou frustradas. 

São histórias tristes, porque na maioria das vezes o potencial da pessoa nunca foi desenvolvido, deixando um enorme arrependimento pela vida vivida parcialmente.





REFLEXÃO

Para Schopenhauer, a vida é um pêndulo oscilando entre a dor e o tédio. A dor, nascida do desejo insaciável, e o tédio, filho da satisfação alcançada, criam uma dança cruel onde o alívio é apenas uma miragem. O desejo em si é dor; a conquista não passa de um alívio temporário que logo se dissolve no vazio. Na posse do que se queria, a ânsia se renova, e um novo desejo surge, perpetuando o ciclo. Assim, a existência se desenrola como uma eterna busca que nunca satisfaz, um tormento incessante que nos condena à infelicidade.

Contudo, Schopenhauer, em um toque de genialidade, propõe uma saída desse círculo vicioso: a superação da vontade individual. Inspirado pela filosofia oriental, especialmente o budismo, ele sugere que a chave para libertar-se da dor reside na negação dessa vontade cega e insaciável. O caminho proposto é a experiência estética, a contemplação do belo, que nos eleva além dos caprichos do desejo. Na arte e na natureza, encontramos uma janela para a intuição pura, um estado onde a vontade perde seu poder e somos momentaneamente libertados do sofrimento.

A experiência estética, segundo Schopenhauer, não é apenas um escape, mas uma revelação. O artista, ao criar, transcende sua própria vontade e oferece ao espectador uma visão do mundo livre das amarras do desejo. Na contemplação do belo, o espectador também é convidado a esse estado de suspensão, onde o fardo da existência se torna mais leve. O momento estético é uma pausa na roda do tempo, uma suspensão das relações mundanas, onde apenas o essencial se revela. É nesse encontro com a essência que encontramos a paz e a alegria, ainda que fugazes.

Assim, na contemplação do belo, a vida ganha um sentido que transcende a dor e o tédio. A arte se torna um bálsamo, uma fonte de alívio que nos permite suportar a existência. O espectador, ao olhar através dos olhos do artista, percebe uma nova dimensão da realidade, onde a busca incessante do desejo é silenciada e a verdadeira paz pode ser vislumbrada. É nesse estado de intuição e contemplação que encontramos uma breve, mas profunda, trégua da roda incessante do sofrimento.



Eliane de Pádua