Era um velho carvalho no meio de uma grande floresta.
Há
alguns anos, uma enorme tempestade o deixara quebrado e feio. Jamais conseguira
se reerguer, como as demais árvores.
Quando a primavera chegava, o adornava de
flores verdes novas e o outono tomava o
cuidado de pintá-las todas de cor avermelhada.
Mas os ventos inclementes
sopravam e levavam todas as folhas e nada mais podia disfarçar a sua feiura.
A
árvore foi se sentindo esquecida, abandonada, sem utilidade. E um enorme vazio tomou conta dela.
Quando o vento do outono passou por ali, ela se lamentou:
Ninguém mais me quer.
Não sirvo para nada.
Sou um velho inútil.
Mais alguns
dias se passaram e, na proximidade do inverno, um pica-pau sentou-se em seu
tronco e começou a bicá-lo, de forma insistente. Tanto bicou que conseguiu
fazer um pequeno furo, uma portinha de entrada para sua residência de inverno,
no tronco oco do carvalho. Arrumou tudo com muito bom gosto. Aliás, estava
praticamente tudo arrumado. As paredes eram quentinhas, aconchegantes e havia
muitos bichinhos que poderiam alimentá-lo e aos seus filhotes.
Como estou feliz em ter encontrado esta árvore oca!
Ela será
a salvação para mim e minha família no frio que se aproxima. Pouco tempo
depois, um esquilo aproximou-se e ficou correndo pelo tronco envelhecido, até
achar um buraco redondo, que seria a janelinha da sua casa. Forrou por dentro
com musgo e arrumou pilhas e pilhas de nozes que o deveriam alimentar durante
toda a estação de ventos gelados.
Como estou agradecido, falou o esquilo, por ter encontrado
esta árvore oca.
O carvalho passou a sentir umas coisas estranhas. As asas dos
passarinhos roçando em sua intimidade, o coração alegre do esquilo, suas patas
miúdas apalpando o tronco diariamente fizeram com que se sentisse feliz.
Seus ramos passaram a cantar felicidade. Quando chegou a
época das chuvas, deixou-se molhar, permitindo que as gotas escorressem por
seus galhos, lentamente.
Aceitou a neve que o envolveu em seu manto por muitas
semanas, agradeceu os raios do sol e a luz das estrelas.
Tudo era motivo de felicidade.
A velha árvore redescobrira a alegria de servir.
REFLEXÃO
Ninguém há que nada possua para dar. Ninguém existe que não
possa fazer algo a benefício do seu irmão. Um sorriso, uma prece, um gesto, um
abraço, um agasalho, um pão. Há tanto que se fazer na Terra. Existem tantos
aguardando a cota do nosso gesto de ternura. Ninguém inútil ou desprezível.
Cabe-nos redescobrir a riqueza que em nós existe e distribuí-la a quem dela
necessite ou espere.
Se nos sentirmos solitários, em meio às dificuldades que nos
alcancem, aprendamos a estender sorrisos nos caminhos por onde passarmos. Antes
de nos amargurarmos e cobrar gestos de carinho de amigos e parentes
antecipemo-nos e doemos a nossa cota de amor, ainda hoje, permitindo-nos
usufruir da alegria.
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